Aparelhos Eletrônicos

 

Manutenção de Unidades de CD - Parte 3

Parte 1        Parte 2        Parte 3        Parte 4        Parte 5        Parte 6        Parte 7       

Na parte 2 desta série, falávamos sobre o funcionamento do circuito APC, (faz tempo...) lembram? Bem, dada a importância deste estágio veremos nesta aula mais detalhes técnicos a este respeito. Vou mostrar como fazer o ajuste correto deste circuito utilizando um instrumental simples, destacando que é este o mais importante ajuste elétrico existente nestes equipamentos independente do tipo de leitor, seja um CD-DA (músicas), um CD-ROM, um DVD ou um CD-R, em todos os modelos lá está nosso velho conhecido trimpot de ajuste do diodo laser. Assim, o procedimento que aqui será estudado servirá como base para todos, as diferenças estarão por conta das características técnicas de cada unidade óptica (corrente suportável). Sem mais blá, blá, blá, vamos ao que interessa!

Em primeiro lugar, devemos ter em mãos alguns itens importantes e indispensáveis, são eles:

Esquema do equipamento, informações técnicas sobre a unidade óptica (se possível)

Kit de mini chaves tipo philips e fenda com ponta isolada

Multímetro

A lei de ohm (refresquem a memória...)

CD teste de padrões / 1khz (preferencialmente)

Observem na figura 1, um circuito APC real existente em vários modelos de DVD Toshiba importados.

Circuito APC
Figura 1

Descrição básica do circuito

Este diagrama apresentado existe em inúmeros aparelhos de CD's e DVD's de diferentes fabricantes, mas em especial nos modelos da marca Toshiba. É no pino 51 do IC1 que tudo começa, recebemos a informação (um pulso) de acionamento para que seja ligado nosso diodo laser. Este pulso é enviado pela CPU de controle do equipamento toda a vez que abrimos e fecharmos o tray (gaveta de compartimento do CD). Através deste pulso o operacional aplicará uma tensão inicial ao transistor de ganho do APC (TR200) que conduzirá alimentando o diodo LD. Com a emissão de luz infra, aparecerá imediatamente uma corrente no diodo monitor MD com o objetivo de realimentar nossa cadeia de controle automático estabilizando a potência do laser, a teoria de funcionamento deste sistema é idêntica a já descrita no diagrama da aula 2. Pelo pino 53 o IC TA 1236 recebe alimentação para o bloco de controle e seleção de potência. Pelo pino 52 do IC são liberadas tensões de correção para a base do transistor TR200 controlando sua condução e o ganho de corrente da unidade. TR1 é o nosso tradicional trimpot de ajuste de potência, com ele regulamos a referência de terra (maior ou menor ) sobre o pino 50 no integrado APC. Assim, um referencial mais negativo ou menos negativo informará quanto o circuito de APC deverá aplicar de corrente no diodo laser.

Ajustes

1 - Em que condição se faz necessário o ajuste do laser?
2 - Por que ocorre o desajuste?

Falamos um pouco sobre isso na Parte 2, mas vamos as questões:

Sempre faremos ajuste em drives de CD's quando estes apresentarem dificuldade em ler discos, demora excessiva para acesso dos conteúdos do disco, pular trilhas ou perder sincronismo de leitura. Outra situação real é quando fizermos a substituição de unidades ópticas, devemos sempre conferir a corrente aplicada no laser.

O desajuste ocorre por várias razões, a mais comum é o desgaste do diodo laser por mal uso (modelos portáteis) outra razão é a relativa baixa qualidade de algumas unidades ópticas que diminuem sua emissão após as primeiras 1000 horas de uso.

Em primeiro lugar, procure localizar na placa eletrônica o transistor de APC (no exemplo é oTR 200), ele normalmente fica próximo ao flat da unidade óptica na placa principal. O trimpot é só olhar na pci do conjunto óptico. Por último, o mais importante, localize o resistor de alimentação (no exemplo é o R2) pois é a partir dele que faremos o ajuste. Pronto, agora só resta colocar o multiteste paralelo ao resistor R2 (como no diagrama), na escala de voltagem. A próxima etapa é delicada e exige muito cuidado, ligando o aparelho com um disco de CD (se não dispuser de um disco de teste profissional como CD-T03 da Kenwood, utilize um disco comum da melhor qualidade possível, evite os piratas!), imediatamente o diodo laser emitirá radiação infravermelha, tentará focalizar o disco (a lente se movimentará para cima e para baixo 3 vezes) é nesta situação que começaremos o ajuste propriamente dito. Coloque o disco para reproduzir, no momento em que existir focalização verificaremos o valor de tensão indicado no multiteste, se ela for inferior ou superior a 0,5 volts deveremos, com uma chave isolada, regular o trimpot R1 para que em sua escala tenhamos o valor de no máximo 0,5 v. Este procedimento é valido para inúmeros circuitos de diferentes fabricantes, o cálculo envolvido aqui e bastante simples, observe:

1 - Descubra o valor do resistor de alimentação do transistor de apc, no exemplo o R2 é de 10 ohms.
2 - Se você tiver dados técnicos do conjunto óptico, como o valor da corrente utilizada por sua unidade melhor, caso contrário (maioria) utilize o valor padrão aplicado em 90% dos casos. Este valor é de 50 mA (NÃO ESQUEÇA DE CONVERTER AS UNIDADES PARA QUE FIQUEM COMPATÍVEIS), 50 mA = 0,05A.
3 - Aplique a lei de ohm, que diz R= E/I (resistência é igual a tensão dividida pela corrente)
4 - O valor da resistência é só ler no diagrama ou interpretar as cores sobre o componente.
5 - Agora aplique a lei!

10 = E / 0,05

Assim, isolando "E" teremos:
E (queda de tensão no resistor) = 10 x 0,05 E = 0.5v

Ok, com esta queda de tensão sobre o resistor R2 temos certeza de que nossa unidade óptica esta recebendo uma corrente de no máximo 50 mA, como eu disse, na maioria dos casos é o valor recomendado.

OBS: Quando não for possível encontrar isoladamente o transistor de APC, principalmente em CD-ROM, localize o IC-drive do conjunto óptico (normalmente o único IC que aquece e esta próximo ao flat da unidade), neste caso você deverá ter no mínimo uma referência básica sobre o circuito em questão. O transistor geralmente encontra-se interno a esse IC, devemos localizar a pinagem respectiva para prosseguir com as medições, o procedimento de ajuste é o mesmo já descrito.

Dica:

É importante ter cuidado com algumas unidades ópticas novas compradas para substituição, alguns tipos possuem aparência idêntica a original porém, quando nos atermos ao valor do trimpot de ajuste do laser verifica-se que o mesmo tem diferente valor do original. Nesta situação, obrigatoriamente, refaça os ajustes de potência para não comprometer a vida útil da sua nova unidade óptica.

Se você estiver ajustando uma unidade óptica e esta só conseguir estabilizar a leitura com uma corrente acima de 50mA, será um forte indício de que sua unidade apresenta maior consumo e portanto, sua vida útil se aproxima do final.

Nota 1:

Quanto a determinação do valor de 50 mA para unidades ópticas (maioria dos casos), ele foi obtido com os próprios fabricantes, que têm o dever de especificar este dado na etiqueta do conjunto óptico. Inúmeros testes de laboratórios comprovaram que esta corrente é a máxima recomendada para que as unidades consigam executar uma boa leitura de discos e manter uma longa vida útil sem um desgaste ou queima prematuros. Este valor tende a diminuir e não se surpreendam de encontrarem novos conjuntos ópticos trabalhando com correntes inferiores. Geralmente nas etiquetas das unidades são colocadas códigos que dizem respeito aos valores de corrente ideal para estes dispositivo, exemplos:

Unid. óptica corrente ideal:

hfa 151 = (51mA)
kss 210A45y31= (45mA)
kss 210Ak48 = (48mA)
sd 500 = (50 mA)
sd 250 = (50mA)
k43S206GB = (43mA)
k46G84F= (46mA)
kss213B = (36mA)

Como podem ver, normalmente existe uma referência numérica que expressa a corrente ideal a ser utilizada. Estes ajustes são extremamente precisos assim, uma leve torção no trimpot será suficiente para que se eleve esta corrente a valores bem superiores ao ideal. Se por acaso aplicarmos uma corrente de 90 mA na unidade, ela terá sua vida útil abreviada no mínimo em 50%, quando não ocorrer sua queima. Em aparelhos de custo baixo como CD-ROM tudo bem, compramos outro por 130 pratas. Agora, imagine um sofisticado DVD carrossel de no mínimo U$ 1500! Claro que eu exagerei um pouco, um prejuízo de 130 pratas já é terrível, não? Bem, o importante mesmo e saber fazer em todos eles o ajuste mais preciso possível, assim teremos seu funcionamento garantido pelo tempo máximo.

Nota 2:

Acho importante dizer a todos que o ideal é dispor de sofisticados instrumentos para ajustes e manutenção de leitores, de forma alguma será desperdício investir em bons instrumentos, como bons osciloscópios, geradores, discos-testes e medidores de potência podemos avançar muito numa manutenção precisa e profissional. Acontece que a grande maioria não dispõe destes recursos extremamente caros, também nada adianta tê-los se não soubermos utilizá-los. Por esta razão este procedimento de ajuste com o multímetro além de ser barato, todos podem fazer sem medo de ser feliz e o mais importante, tem grande precisão!

Este procedimento não exige que o técnico conheça a fundo as dezenas de sinais presentes nos circuitos destes aparelhos, não significando que seja dispensável conhecê-los. Em capítulo oportuno, veremos a respeito destes sinais e instrumentos adequados na utilização em CD.

Nota 3:

Observa-se em alguns modelos novos de leitores, em especial no DVD-ROM e CD-R's, que vários fabricantes estão desenvolvendo unidades ópticas com consumo de corrente ainda menor, em certos casos testou-se unidades onde o ajuste aqui descrito é fixado na ordem de 35mA.

Outro importante aspecto diz respeito exclusivamente aos CD-R's, não podemos esquecer que estes tem duas funções, gravação e reprodução. Dessa forma, fica claro que existirá uma corrente adequada a ser ajustada para cada um dos modos de trabalho deste equipamento. Na reprodução o procedimento é similar ao já descrito, no modo gravação será necessário aplicar uma corrente maior ao diodo emissor (varia de acordo como modelo mas geralmente o valor fica próximo aos 70 mA) a fim de propiciar um feixe mais potente para gravarmos nossas informações (a necessidade de emissão com maior potência se deve as características físicas impostas pelo processo e pelo disco de gravação). Mesmo sendo unidades ópticas especiais, no modo de gravação elas sofrem maior desgaste e portanto tem seu tempo de vida útil reduzido.

Cabe lembrar também dos raros casos em que não existe o trimpot para ajuste de potência. E ai como fica? Fica bem mais complicado, mas possível de remediar. Você obrigatoriamente deverá dispor de um bom osciloscópio (no mínimo 50 MHz), muita paciência e técnica. Em capítulos apropriados veremos em detalhes este procedimento, por hora, ficaremos apenas na afirmação de que é possível ser feito.

Há um outro detalhe, na maioria das placas de CD Player geralmente existem 2 ajustes importantes a serem feitos, o foco set (ou ganho) e o track set. Ambos dizem respeito a calibragem da sensibilidade dos respectivos circuitos de correção de foco e rastreamento. Em drives de CD-ROM, DVD-ROM e CD-R na grande maioria dos casos não encontramos estes tipos de ajustes, lá o próprio circuito eletrônico executa automaticamente esta calibragem. Os procedimentos técnicos no caso específico das placas de CD-DA (música) serão analisados oportunamente.

** Aproveito para lembrar a todos que este capítulo sobre funcionamento de unidades de CD e circuitos será bastante longo, iniciamos com o circuito apc e as técnicas de ajuste, na próxima edição seguiremos analisando circuitos básicos de CD Player e gradativamente avançaremos nas demais tecnologias de leitores.

 

Manutencao de Unidades de CD - Parte 3